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Agronegócio acelera crescimento do Centro-Oeste; MT é destaque


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O agronegócio acelerou o crescimento da economia do Centro-Oeste do país, com o boom das commodities impulsionado nos últimos anos por fatores como câmbio e preço, o que fez com que os olhares das gestoras de investimento se voltassem cada vez mais para a região. Bancos abriram novas agências, dobraram equipes para atender grandes investidores, passaram a prospectar novos clientes e a oferecer soluções para governança e sucessão nas propriedades.

 

O objetivo é claro: atrair o setor para a Faria Lima, em São Paulo, e vice-versa. A região abriga 16 dos 20 municípios mais ricos do agronegócio brasileiro. Dez deles estão em Mato Grosso, inclusive o líder, Sorriso.  Mato Grosso do Sul e Goiás têm três cada.  Entre as 100 cidades mais ricas no agro, 35 são de Mato Grosso, 13 de Mato Grosso do Sul e 10 de Goiás. Elas contribuíram para que a região chegasse a R$ 27,8 bilhões de renda em 2022, ou 25,6% mais que em 2012, conforme dados da LCA Consultoria.

 

Esse fenômeno de crescimento, que já era registrado desde a década de 1980, foi acelerado nos últimos três anos devido ao câmbio favorável e ao preço das commodities no mercado internacional, na avaliação do economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. Não é à toa que as feiras agrícolas viram explodir o faturamento recentemente. Enquanto a Tecnoshow Comigo, em Rio Verde (GO), vendeu R$ 11,1 bilhões no fim de março, a Agrishow, em Ribeirão Preto, projeta ao menos vender cifra semelhante em máquinas entre 1 e 5 de maio. Nos dois casos, turbinadas pela expansão de lavouras e faturamento do Centro-Oeste.

 

O banco Santander, por exemplo, prevê que a expansão do volume de seus negócios no Centro-Oeste chegará a 30% neste ano, com uma equipe de 85 pessoas focadas no atendimento do segmento. O banco aumentou neste ano em 144% o número de assessores de investimentos do projeto AAA no Centro-Oeste –para clientes com mais de R$ 300 mil investidos– e, só em Goiás, abriu dez agências em 2022 e mapeou outras 15 cidades com potencial.

 

Já o Itaú Unibanco, desde 2021, tem 88 profissionais para atender a demanda dos investidores da região, assessorando presencialmente 18 mil clientes das regiões de Campo Grande, Cuiabá, Goiânia e Brasília, além de outras localidades com alta demanda do agro.

 

A sexta edição do Raio-X do Investidor Brasileiro, pesquisa Datafolha feita para a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), oferece outro indicador de que há mais dinheiro disponível na região. O total de pessoas que declararam investir no sistema financeiro subiu de 33%, em 2021, para 43%, no ano passado. É o mesmo índice do Sudeste, que também cresceu –tinha 36% no ano anterior. A margem de erro no Centro-Oeste é de cinco pontos percentuais e, no Sudeste, dois. Isso não significa que as regiões têm o mesmo total de investidores, nem o mesmo valor investido, já que o Sudeste abriga perto de 88 milhões de habitantes, ante menos de 17 milhões do Centro-Oeste.

 

Para a associação, os dados mostram a disposição das pessoas para investir após os efeitos negativos causados devido à pandemia. “A renda do setor praticamente dobrou nos últimos anos. Os estados [do agro] em termos de massa real de renda cresceram dois dígitos em 2021 e 2022 por conta desses impactos de preço e de câmbio”, disse o economista-chefe da MB.

 

O crescimento destacado do agro nos últimos anos e a participação ainda relativamente pequena do mercado de capitais junto aos produtores rurais fez com que o grupo de investimentos Suno lançasse, neste mês, as inscrições para um programa chamado Elite Agro, que vai reunir cerca de 30 empresários para fazer uma ponte com o mercado financeiro concentrado na Faria Lima.

 

Cerca de metade das inscrições até agora é oriunda de empresários e produtores do Centro-Oeste, o que é natural frente à atuação da região no setor, diz Octaviano Neto, diretor de agro do grupo. Segundo ele, estão previstos encontros presenciais e online tanto para introduzir conceitos sobre a estruturação de produtos financeiros junto aos empresários do agro como para apresentar aos gestores de fundos da Faria Lima os negócios em potencial fora do radar deles, mas com grande potencial de crescimento.

 

“Vamos levar a Faria Lima para o campo”, afirma Neto, que ocupou entre 2015 e 2018 o cargo de secretário de Agricultura do Espírito Santo. Estão no foco do grupo negócios agro com faturamento de pequeno e médio porte, entre R$ 20 milhões e R$ 300 milhões anuais. “No caso das grandes empresas do setor, os bancões já as conhecem e atendem”, diz. O gerente de consultoria agro no Itaú BBA, Guilherme Bellotti Melo, disse que a dinâmica do crescimento da região pode ser vista pelo PIB dos municípios. “Em São Paulo, durante esse período [desde 2014], o PIB per capita aumentou 50%, enquanto em Sinop aumentou 170%. É muito reflexo desse setor, que é super competitivo”, disse.

 

Também buscando aproximar o campo da Faria Lima, a gestora de patrimônio Julius Baer contratou o executivo Cristiano Câmara para iniciar a prospecção de clientes no Centro-Oeste. O foco são famílias endinheiradas, com pelo menos R$ 25 milhões de patrimônio, que buscam não apenas diversificar os investimentos, mas também assessoria para trabalhar aspectos como aposentadoria e planejamento sucessório.  “Contratamos pessoas para atuar em regiões que mostram crescimento econômico e relevância”, diz Fernando Vallada, CEO do Julius Baer no Brasil. A gestora já tinha representante em Porto Alegre, e, a partir deste ano, além do Centro-Oeste, foram contratados executivos para Paraná, Norte e Nordeste.

 

“É um movimento natural de o mercado financeiro olhar com atenção para o Brasil produtivo, o Brasil que há muitos anos gera crescimento, sendo o agro e o Centro-Oeste grandes expoentes”, diz Câmara, que ficará baseado em Goiânia. Ele disse que ainda é comum notar detentores de grandes fortunas na região com investimentos de caráter ilíquido, como terras e imóveis, e que passou a perceber a busca por uma sofisticação maior, com um interesse crescente por novas opções de investimento no mercado financeiro.

 

ORIGEM E FUTURO – O ciclo de expansão econômica do Centro-Oeste não é novo, mas a cada vez maior presença do agro brasileiro no comércio internacional fez com que a região crescesse muito acima da média nacional. O PIB de Mato Grosso entre 1986 e 2023 cresceu 695%, enquanto o Brasil acumulou 108,7% no período, segundo cálculos da MB Associados. Mato Grosso do Sul expandiu 273%, Goiás, 188% e o Distrito Federal, 170% no mesmo intervalo, todos acima da média.

 

Se analisados os dados de 2012 para cá, o agro se destaca ainda mais. Mato Grosso e Mato Grosso do Sul cresceram acima de 10% no período, enquanto o Brasil teve redução de 4,7%. “Isso tem sido longo, começou lá atrás, anos 80, 90, se analisarmos a expansão dessa região a gente consegue perceber que a diferenciação da região Centro-Oeste do restante do país vem há pelo menos 40 anos, justamente por conta da questão agrícola. São estados que têm peso muito forte da cadeia do agronegócio, que impulsiona outros segmentos”, disse Vale.

 

Os impactos positivos do agro, afirmou, permitem o crescimento de serviços e indústrias, ainda que não tenham elo direto com a agricultura, e melhoria de indicadores sociais. Esse fenômeno seguirá em 2023 e nos próximos anos, na avaliação do mercado. O departamento econômico do Santander estima que, enquanto o PIB brasileiro deve crescer 0,8% neste ano, a atividade da agropecuária terá expansão de 7,6%, evitando desaceleração maior da economia.

 

Outro ponto, diz Vale, é que o milho poderá ter um papel ainda mais relevante na economia nacional nos próximos anos. “O milho está se tornando, talvez nos próximos anos, o que a soja foi num passado recente, do ponto de vista de a China se tornar um grande comprador desse insumo. Estados Unidos é um grande produtor, mas usa muito internamente […] Não podemos esquecer que o mundo, fora China, está crescendo também. O Centro-Oeste, que já é este celeiro, continuará crescendo ainda mais.”

 

NOVA GERAÇÃO DO AGRO – Corresponsável pela estratégia agro da EQI Asset, Eça Correia diz que, com uma segunda geração de famílias do agro passando a assumir os negócios estruturados nos anos 1980 pelos pais, é possível notar uma preocupação maior com o aprimoramento da governança nos negócios de modo a facilitar a captação de recursos via mercado de capitais, que nos últimos anos passou a representar uma alternativa ao financiamento tradicional via bancos.

 

“O mercado de capitais se estruturou para receber esses produtores, trabalhando em operações de emissão de dívidas distribuídas ao varejo, e só é possível fazer isso à medida que a empresa tem uma governança decente, conseguindo captar recursos com um custo mais barato”, diz o executivo. Da base de aproximadamente 75 mil investidores da EQI Asset, cerca de 10% residem em regiões cuja principal vocação é o agronegócio, o que estimula o desenvolvimento de operações relacionadas com o setor.

 

Nesse sentido, a gestora acabou de estruturar em março um CRA (Certificado de Recebível do Agronegócio) de R$ 115 milhões para financiar a produtora rural Agropecuária Bandeirantes, que tem como principal atividade o cultivo de cana-de-açúcar, com atuação também no plantio de seringueiras e cereais. A oferta atraiu cerca de 3.300 investidores pessoa física, em uma operação com prazo de seis anos e taxa de retorno de CDI mais 4% ao ano.

 

Correia diz também estar nos planos da gestora lançar entre o final do primeiro e o início do segundo semestre um Fiagro (Fundo de Investimento em Cadeias Agroindustriais) para aproveitar as oportunidades que enxerga no setor. Fertilizantes, terminais ferroviários e fluviais e estruturas de armazenamento estão entre os investimentos no radar do fundo. “Como o agro é, historicamente, muito resiliente, o investidor se sente mais seguro para investir no setor, o que facilita a captação de recursos”, afirma o executivo da EQI Asset, acrescentando também estar nos planos o lançamento em maio de um CRA lastreado em dólar, que irá fornecer uma proteção aos produtores rurais que, em muitos casos, têm parte importante dos custos exposta à oscilação do câmbio.

 

Octaciano Neto, da Suno, acrescenta que a gestora do grupo Suno, a Suno Asset, lançou em abril do ano passado um Fiagro que soma cerca de R$ 300 milhões e 40 mil cotistas. O diretor do grupo diz que cerca de 70% do portfólio está concentrado em investimentos no Centro-Oeste, com os aportes até aqui voltados para o mercado de soja. “A soja se tornou a vedete brasileira. Quase 30% do valor bruto da produção agro é soja”, afirma Neto.

 

Neto diz ainda que, frente às oportunidades que enxerga no setor para diversificar o portfólio em outras culturas, como pecuária de corte e leite, operações florestais e plantação de milho, a gestora avalia promover uma nova rodada de captação de recursos para o fundo voltado ao agronegócio. “Vamos continuar olhando de forma muito estratégica para a região Centro-Oeste, que, junto com o estado de São Paulo, tem o maior dinamismo para a nossa agropecuária.”

 

Lançados em outubro de 2021, os Fiagro vêm em uma trajetória crescente praticamente ininterrupta em termos de adesão de novos interessados, somando cerca de 240 mil investidores e R$ 7,6 bilhões em volume investido, segundo dados de março da B3.

 

https://www.diariodecuiaba.com.br

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